Bragança terra da linguiça
Jose Roberto Vasconcellos,
advogado e pesquisador bragantino
De onde vem esta tradição: “Terra da Linguiça?”. A história contada pelo ilustre pesquisador da nossa cidade, com seus detalhes e nuances. Para vocês!
História da linguica bragantina!
Há aqueles que não gostam desse apelido, outros acreditam ser “lenda”, pois citam que “não tem registro de quando nem porquê. Mas há muito Bragança é conhecida como a “Terra da Linguiça. Vejamos.
Em tempos passados era costume na Europa de se fazer, nas próprias casas, algumas iguarias como complemento do alimento da família: a salsissia (na Itália), o embuchado e o chorizo (na Espanha). Esse costume caseiro, como outros, os imigrantes italianos e espanhóis trouxeram para o Brasil.
Como meio para se integrar à vida da cidade, mesmo para suas próprias sobrevivências ou com ajuda na família, alguns começaram a vender seus quitutes. Marcando suas presenças com o sotaque e os hábitos de além-mar, como o gosto pelos “enchidos” de carne de porco.
Em meados de 1911, vinda da cidade paulista de Mineiro do Tietê, juntamente com sua família ( o esposo e quatro filhas “bambinas”) aqui residia a italiana Palmyra Boldrini. Em sua casa, primeiramente na rua da Palha (hoje rua Coronel Assis Gonçalves) e depois na Travessa Bragantina (hoje rua Expedicionário Basílio Zecchin Júnior).
Fazia linguiças que eram compradas pelos bragantinos. Também por visitantes e por “viajantes” de firmas atacadistas que as levavam para suas cidades no interior paulista, mineiro e fluminense.
Terras distantes…
Lá nas terras distantes, quando perguntavam de onde eram aquelas linguiças, as pessoas ficavam sabendo que eram de Braganca terra da linguica. E de uma italiana conhecida como “dona Palmyra”. Una dossa apassionata della “sua” Venezia!.
Na capital paulista, as linguiças feitas por dona Palmyra eram encontradas em conhecidas rotissèries frenqüentadas pela elite paulistana.
Hotéis que ficavam próximos à Estação da Luz, na época os mais requintados da capital, aquelas linguiças, regularmente, faziam parte dos seus menus de almoço.
Nas décadas de 20 e 30, viajantes bragantinos (representantes de firmas atacadistas) muitos oriundos italianos, quando iam para suas praças de atuação.
Algumas vezes levavam linguiças sob encomendas ou para presentear um amigo. Eram os Calzavara, Bertolaccini, Maffei, Rossi, Magrini, Losasso, Titanegro, Vergili, Sabela, Centrini, Januzzi e outros.
Linguica caseira…
Nessa época o negócio da venda de linguiça caseira prosperava e a fama da linguiça de Bragança atingia o mercado externo.
Bragança era um dos maiores centros de porqueiros no estado.
Em 1948, já viúva, em sua nova casa, a de número 8 na praça José Bonifácio (foto) em companhia de suas filhas. Preparava as linguiças que semanalmente enviava de 80 a 100 Kg para São Paulo, onde eram vendidas nas repartições públicas.
Alta, magriz, com sorriso constante num rosto afilado, atendia sua freguesia com seu característico palavreado, misto de português e dialeto “vêneto”.
Muitos fregueses, quando a procuravam no horário do almoço, sempre deparavam com aquela italiana saboreando seu quitute predileto: “pregadinho com linguiça calabresa”.
Nos dias em que não fazia linguiças, passava à tarde costurando na velha máquina de mão, colocada sob pequena mesa junto à janela de grande sala. E nessa grande sala ela ficava atenta às novelas infindáveis que eram transmitidas pelas rádios cariocas.
Dona Palmyra…
Em uma dessas épocas um expoente autoridade paulista morador no Palácio Campos Elísios, mensalmente aqui, mandava seu motorista particular para comprar aquelas linguiças em Braganca terra da linguica.
Eram as conhecidas e já famosas Linguiças da dona Palmyra… de Bragança. No imenso corredor da casa e na grande sala, em varais de bambu recobertos por folhas de papel cor rosa, as linguiças eram penduradas, ficando a enxugar ao tempo e à vista dos fregueses.
Bragantinos, ou não, que no passado puderam saborear aquelas salsissias, do tipo caseiro, feitas de pernil de porco, e por mão hábeis, foram os que verdadeiramente criaram o nome “Linguiça de Bragança” e propagaram sua fama.
Palmyra Boldrini, como imigrante “não fez a América”, entretanto “foi causa” de uma tradição bragantina!. O tempo passou e a reminiscência conserva por 88 anos e sempre viva o popular e agradável apelido à nossa cidade: “Bragança, Terra da Linguiça”.
Hoje, há aqueles que utilizam o nome “Linguiça de Bragança, sendo como marca de própria criação, usam de forma indevida.
No Livro “O Poeta do Futuro (edusf/98) que faz a memória e homenageia os 200 anos de história da Câmara Municipal de nossa cidade, está a seguinte referência dada por um estudante, garoto de 10 anos de idade: “A linguiça era a maior tradição de Bragança
Paulista”.
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